segunda-feira, 31 de março de 2014

Faringites



   Doença muitas vezes também chamada de dor de garganta, a faringite é uma inflamação que atinge a faringe. Esta fica posicionada entre a laringe e as amígdalas. Quando ocorre a inflamação, geralmente, é resultado da ação de alguma bactéria ou vírus. 

   A maioria dos casos são de etiologia virótica frequentemente associada ao resfriado comum, às infecções pelo vírus influenza e ao vírus Epstein-Barr (agente da mononucleose infecciosa). Já as faringites de etiologia bacterianas, aproximadamente 15% a 30% de todos os casos são causados pelo Streptococcus pyogenes (estreptococo beta-hemolítico do grupo A), principalmente em crianças na idade escolar. Diversos outros microrganismos, como Neisseria gonorrhoeae, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e Corynebacterium diphtheriae, podem ser causas de faringites agudas. Em ambos os casos (viral ou bacteriana) os microrganismos acabam agredindo a membrana mucosa que protege a faringe, ocasionando inflamação local.

FIG 1: Dor de garganta é o nome popular da faringite. Disponível: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/faringite




   A via inalatória e o contato direto podem transmitir os vírus respiratórios e o estreptococo do grupo A, respectivamente. Ambos os tipos de faringites predominam nos meses mais frios do ano (outono e inverno).  Cerca de 10-30% das crianças em idade escolar são carreadoras do estreptococo do grupo A na orofaringe, de forma assintomática. Estes carreadores assintomáticos podem transmitir o agente para outra criança, porém, a probabilidade é pequena.  São pacientes sintomáticos que transferem facilmente bactérias, através da secreção nasal e da saliva (perdigotos). O contato próximo é o grande fator de contágio, explicando o predomínio da doença no início do período escolar e em regiões de baixo nível socioeconômico, com aglomeração de pessoas. 

   Vale frisar que o reconhecimento e o tratamento precoce da faringite estreptocócica têm importante papel no controle da doença, já que após 24-48h do início da antibioticoterapia, o paciente não mais elimina o agente. Sem tratamento, o contágio perdura algumas semanas além da fase sintomática.

  As faringites causadas pelo S. pyogenes geralmente afetam a faixa etária de 5-15 anos e apresentam quadro agudo de dor à deglutição, febre elevada (acima de 38,5ºC), cefaleia, prostração, vômitos, calafrios e, em alguns casos, dor abdominal.  Na inspeção da orofaringe encontram-se tonsilas hiperemiadas com exsudato branco-purulento não aderente e petéquias em palato. Ainda pode estar presente adenomegalias cervicais e rash eritematoso semelhante a uma lixa (se estivermos diante de uma escarlatina). Nas faringites virais, geralmente a faixa etária é menor (lactentes), há pródromos de infecção viral de vias aéreas superiores (ex:coriza, obstrução nasal e tosse), e geralmente não há exsudato exuberante e petéquias no palato.




FIG 2: Faringite Viral. Disponível em:
http://www.mdsaude.com/2009/03/dor-de-garganta-faringite-amigdalite.html
FIG3: Faringite Bacteriana. Disponível em:
http://www.mdsaude.com/2009/03/dor-de-garganta-faringite-amigdalite.html

FIG 4: Petéquias no palato – Indicativo de faringite bacteriana. Disponível em: http://www.mdsaude.com/2009/03/dor-de-garganta-faringite-amigdalite.html.

   O diagnóstico é basicamente clínico com base na convergência de manifestações preditoras positivas e negativas descritas acima. Entretanto o diagnóstico de certeza pode ser feito utilizando-se o teste antigênico rápido para o estreptococo a partir de coleta de material da orofaringe. Se o teste for positivo, indica-se o tratamento antibiótico. Se negativo (pode ocorrer, pois o teste tem baixa sensibilidade), realiza-se a cultura de orofaringe exame considerado padrão ouro e cujo resultado demora 48h. Pode aguardar o resultado antes de tratar, pois a febre reumática, complicação tardia temida da faringite estreptocócica, pode ser prevenida atrasando-se o início da antibioticoterapia em até 9 dias.

   Teste rápido de identificação direta do material da garganta está se revelando um método preferido no lugar do exame de cultura (padrão ouro), quando são usados reagentes de alta sensibilidade. Quando disponível, deve ser utilizado para a confirmação do diagnóstico.
O tratamento geral é baseado em:
  • ·         Repouso no período febril;
  • ·         Estimular ingestão de líquidos não ácidos e não gaseificados e de alimentos pastosos;
  • ·         Analgésico e antitérmico: acetaminofeno ou ibuprofeno.
  • ·         Irrigação da faringe com solução salina morna.
O tratamento específico:
  • Penicilina G benzatina: intramuscular em dose única, pois o fármaco mantém níveis séricos terapêuticos por 10-14 dias. Dose: para menores de 27kg: 600.000 U; maiores de de 27kg: 1.200.000U.
  • ·         Opções : Penicilina V oral por 10 dias ou amoxicilina ( 50 mg/kg/dia) oral por 10 dias.
  • ·         Para os alérgicos à penicilina: eritromicina oral por 10 dias.

   Ao contrário do que muitos pensam, a faringite estreptocócica evolui quase sempre com resolução espontânea após 4-5 dias em média (mesmo sem o uso de antibióticos!). A condição só não é considerada benigna pelo risco (em torno de 3%) de complicações tardias, como febre reumática, glomerulonefrite e grande transmissibilidade quando não tratada. Quanto mais precocemente for instituída a terapêutica, mais segura será a prevenção das complicações supurativas (abscesso retrofaríngeo ou periamigdaliano) e não supurativas.



Referências:

PITREZ, Paulo M.C.; PITREZ, José L.B. Infecções agudas das vias aéreas superiores – diagnóstico e tratamento ambulatorial. Jornal de Pediatria. Vol.79 (Supl.1), p. S81-S83. 2003.

MEDEIROS, Eduardo A. S. de. Tratamento das principais infecções comunitárias e relacionadas à assistência à saúde e a profilaxia antimicrobiana em cirurgia. 2008. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/atm_racional/modulo3/comunitarias10.htm.> Acesso em: 30 març. 2014.

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