Para a OMS,
a QUALIDADE DE VIDA(QV) pode ser definida em função da maneira que o individuo
percebe o
lugar que ocupa na sua cultura e no sistema de valores em que vive, assim como em relação a seus objetivos, expectativas, critérios e preocupações. A qualidade
de vida deve
basear-se em uma ampla série de critérios e não somente em um aspecto.
Não há como negar que portar o HIV e/ou ser doente de Aids
tem um impacto sobre a percepção da qualidade de vida (QV). Ainda que pese o fato
da qualidade de sua avaliação estar relacionada às propriedades dos instrumentos
– portanto, urgindo a necessidade de escolha de instrumentos de avaliação que
sejam robustos em suas propriedades psicométricas e/ou em conteúdos que possam
abarcar as principais áreas já apontadas pela literatura internacional sobre o assunto -
tem-se que considerar, também, as características próprias da enfermidade, que envolvem um
conjunto de fatores adversos que pressupõem alguma perda e convivência com
adversidades.
Muitos
portadores de HIV/Aids sofrem um impacto em sua QV tanto pelos fatores próprios às
limitações físicas, sociais e estéticas, quanto devido ao fato de que muitos profissionais
da área de saúde encontram dificuldades no seu atendimento, uma vez que carecem de
conhecimentos e habilidades necessários para lidar com essa enfermidade.
O despreparo profissional é um fato grave,
pois algum erro de comunicação, como uma palavra
mal colocada ou o silêncio ou qualquer comportamento equivocado, por parte do
profissional de saúde, pode comprometer a qualidade de vida dos portadores de HIV e
enfermos de Aids durante a sua existência e aumentar seu sofrimento e de seu parceiro (a)
e familiares.
Em outras palavras, a qualidade da interação estabelecida entre os
profissionais de saúde e portadores de HIV também estará na base da percepção subjetiva da
qualidade de vida dos enfermos.Outro fator relevante é a avaliação da QV sendo realizada pelo próprio
indivíduo, pois é ele quem vivencia sua enfermidade e as adversidades dela decorrentes.
Esse fato demonstra, de acordo com Grau (1998), que a QV envolve aspectos subjetivos
e objetivos pertencentesao indivíduo e experenciados de maneiras diferentes por cada
um.
No campo da saúde, a
discussão sobre QV dos enfermos crônicos é promissora.Envolve questões afins à configuração psicológica de cada
um, dentro de estruturas social, política e histórica definidas, sendo que tais
fatores (internos e externos à pessoa) se vêem continuamente interligados. No mesmo sentido, buscam
os estudos em Psicologia da Saúde compreender, por meio da descrição e da
análise das questões relacionadas ao HIV/Aids, como as características de tal
condição de enfermidade impactam o desenvolvimento natural(ou esperado) dos
indivíduos. Neste sentido,adoecer é fator inibidor do desenvolvimento humano.
De acordo
com Moreno-Jiménez, Hernández e Herrer (2005), as pessoas otimistas desenvolvem
mais habilidades de enfrentamento do que as pessimistas, influenciando, assim, a
melhora no estado de saúde. O estado de saúde é percebido de maneira satisfatória
quando o otimismo faz parte da condição psicológica do indivíduo.
Os participantes que apresentam relatos de
otimismo, em relação a sua enfermidade,avaliam a QV
de forma positiva. Com isso, as dimensões da QV são influenciadas; eles percebem o
estado de saúde de forma satisfatória, apresentam estratégias de enfrentamento
adaptativas e apresentam um nível de independência maior em relação aos outros.
De uma forma
geral, os dados qualitativos mostram que a QV de portadores
de HIV/Aids é mediada por aspectos físicos, citados nos relatos de percepção
geral do
estado de saúde, estes na maioria tratados como insatisfatórios, e por aspectos psicológicos.
Nos aspectos psicológicos, em geral, percebe-se a presença de relatos indicadores
de sentimentos de depressão, de fantasias relacionadas a perdas e decomportamento
social restrito, por parte dos participantes.
Entre as
sugestões para as equipes de assistência ao portador de HIV/Aids, pode-se
citar a
necessidade de um espaço para oficinas terapêuticas, nas quais os portadores e familiares
possam discutir e refletir sobre suas dificuldades e experiências com o preconceito,
a sexualidade e suas limitações, a morte e a própria qualidade de suas vidas.
A criação de
oficinas de produção é importante para promover a auto-estima, o otimismo em
relação à capacidade laboral e o nível de autonomia do sujeito, pois muitos participantes
se encontram desempregados e sem expectativa em relação ao trabalho.
Com a adoção de estratégias sistematizadas e
planejadas, podem ocorrer modificações
na visão paternalista das casas de apoio, que podem ser transformadas em casas de
apoio social, emocional e político.
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