sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

FEBRE MACULOSA BRASILEIRA

A febre maculosa brasileira (FMB) e uma doença infecciosa febril aguda, de gravidade variável, cuja apresentação clínica pode variar desde as formas leves e atípicas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. Caracteriza-se por ter início abrupto, com febre elevada, cefaleia e mialgia intensa e/ou prostração, seguida de exantema maculo-papular, predominantemente nas regiões palmar e plantar, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias.



Paciente apresentando hemorragia no globo ocular devido à Febre Maculosa.
 
Imagem disponível em: http://bichosonline.vet.br/?p=1368, Acesso em : 13/12/2013.


No Brasil, a ocorrência da FMB tem sido registrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Santa Catarina e mais recentemente, a partir de 2005, nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. No período de 2001 a 2008, foram registrados 601 casos da doença, com taxa de letalidade media de 24,8% (Tabela 1). Os casos que evoluíram para óbito ocorreram na região Sudeste do Brasil. A hipótese para esse fato é de que a doença no país seja decorrente de mais de uma espécie de Rickettsia, com diferenças nas apresentações clinicas, virulência e letalidade. São necessários esforços por parte da assistência médica, vigilância epidemiológica e rede laboratorial para que haja maior percentual de isolamento das espécies circulantes nas diferentes regiões do Brasil.





            A FMB é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia (Rickettsia rickettsii), que é gram-negativa intracelular obrigatória. No Brasil, os principais reservatórios da R. rickettsii são carrapatos do gênero Amblyomma, tais como o A. cajennense, A. cooperi (dubitatum) e o A. aureolatum. Entretanto, potencialmente qualquer espécie de carrapato pode ser reservatório, como ocorre com o Haemaphysalis leporispalustris (carrapato do coelho).


Os carrapatos do genero Amblyomma sao os principais vetores da R. rickettsii causadora da febre maculosa brasileira. O A. cajennense tem ampla dispersão por todo território nacional e popularmente conhecido como “carrapato estrela”, “carrapato de cavalo” ou “rodoleiro”, suas ninfas por “vermelhinhos” e as larvas por “carrapatinhos” ou “micuins”. A doença é adquirida pela picada do carrapato infectado com Rickettsia e a transmissão, geralmente, ocorre quando o artrópode permanece aderido ao hospedeiro por um período de 4 a 6 horas. A doença não é transmitida de pessoa a pessoa.

Carrapato parasitando o couro cabeludo de um humano.
 Disponível em: http://www.cabuloso.xpg.com.br/portal/galleries/view/doenca-do-carrapato/page:2,Acesso em: 13/12/2013.

           
A doença pode ser de difícil diagnostico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo entre profissionais bastante experientes. Por ser uma doença multissistêmica, a febre maculosa pode apresentar um curso clinico variável, desde quadros clássicos a formas atípicas sem exantema. O inicio geralmente e abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos e incluem: febre (em geral alta), cefaleia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos.

Em geral, entre o 2o e o 5o dias da doença, surge o exantema máculo-papular, de evolução centrípeta e predomínio nos membros inferiores, podendo acometer região palmar e plantar, em 50 a 80% dos pacientes com essa manifestação. Embora seja o sinal clinico mais importante, o exantema pode estar ausente, o que pode dificultar e/ou retardar o diagnóstico e tratamento, determinando uma maior letalidade. Nos casos graves, o exantema vai se transformando em petequial e, posteriormente, em hemorrágico, constituído principalmente por equimoses ou sufusões. No paciente não tratado, as equimoses tendem a confluência podendo evoluir para necrose, principalmente em extremidades.

            A confirmação do diagnóstico de FMB se dá através de exames laboratoriais:

Exames inespecíficos

ü  Hemograma – a anemia e a plaquetopenia são achados comuns e auxiliam na suspeita diagnóstica. Os leucócitos podem estar normais, aumentados ou diminuídos, podendo apresentar desvio à esquerda.

ü  Enzimas – creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH), aminotransferases (ALT/TGP e AST/TGO) e bilirrubinas (BT) estão geralmente aumentadas.

Exames específicos

ü  Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) – é o método sorológico mais utilizado para o esclarecimento diagnóstico das rickettsioses, sendo considerado padrão ouro, e o mais disponível na rotina laboratorial. A RIFI é uma reação de alta sensibilidade e especificidade e que pode ser utilizada para identificar e quantificar imunoglobulinas específicas da classe IgM e da classe IgG.
                                                                                                    
Pesquisa direta da Rickettsia

ü  Histopatologia/imunohistoquímica – realizada em amostras de tecidos obtidas em biopsia de lesões de pele de pacientes infectados, em especial os graves, ou em material de necropsia, como fragmentos de pulmão, fígado, baço, coração, músculos e cérebro. A imunohistoquímica em lesões vasculíticas de pele e considerada como o método mais sensível para a confirmação de febre maculosa na face inicial da doença.

ü  Técnicas de biologia molecular – reação em cadeia de polimerase (PCR), realizada em amostras de sangue, coágulos formados após centrifugação do sangue coletado, tecido de biópsia ou necrópsia. Apesar de ser um método rápido, não possui um padrão específico, a sensibilidade e a especificidade diagnóstica podem variar entre os testes. As técnicas de biologia molecular possibilitam melhor e mais adequada caracterização dos dois grupos de riquétsias: o grupo da febre maculosa (GFM), no qual estão incluídas R. rickettsii, R. parkeri, R. africae, complexo R. conorii, entre outros; e o grupo do tifo (GT), constituido por R. prowazekii e R. typhi.

O tratamento para pacientes com sinais e sintomas clínicos da FMB se dá com a doxiciclina, que deve ser utilizada em casos leves e moderada, de manejo ambulatorial. Nos casos mais severos, que requerem internação e utilização de antibióticoterapia por via endovenosa, o cloranfenicol é a droga utilizada, pela inexistência da doxiciclina parenteral no país. A doxiciclina é contraindicada para gestantes e crianças menores de 9 anos. A partir de suspeita de febre maculosa, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado imediatamente, não se devendo esperar a confirmação laboratorial do caso. Se o paciente é tratado nos primeiros 5 dias da doenca, a febre geralmente regride entre 24 e 72 horas, após o início do uso apropriado de antibióticos. O tratamento deve ser mantido por 3 dias, após o término da febre. Não é recomendada a antibioticoterapia profilática para pessoas não doentes, que tenham sido recentemente picadas por carrapatos, podendo apenas contribuir para atrasar o início dos primeiros sintomas, caso venham a desenvolver a doença.


Referências:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. In:______. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. Ed. Brasília. Série A. Normas e Manuais Técnicos, 2010. Caderno 12, p. 1 – 14.

SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, Divisão de Zoonoses. Informe Técnico. Febre maculosa brasileira.
Acessado em 26 de junho de 2009.



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