A
tuberculose é uma doença que apesar de todos os avanços científicos e
tecnológicos continua a constituir um grave e importante problema de saúde
pública.
A
forma clínica de Tuberculose com bacilos resistentes à rifampicina e à
isoniazida foi conceitualmente denominada tuberculose multirresistente (TBMR),
reconhecida nos EUA no final da década de 1980. Como característica a
tuberculose multirresistente apresenta diagnóstico tardio, taxa de cura mais
baixa, taxa de transmissão elevada, alta mortalidade, além de íntima relação
com a população hospitalizada e imunodeficiente por AIDS. A terapêutica da TBMR
requer tratamento complexo, individualizado, com recursos à múltiplos fármacos
de 2ª linha, com alta toxicidade e elevados custos.
A OMS estima que em 2006, a incidência
da multirresistência era de 489.139 casos, o que corresponde a 4,8% de todos os
casos novos e previamente tratados. A China e a Índia são responsáveis por 50%
da incidência e a Federação Russa por 7%.
Os principais fatores de risco de
resistência aos antibacilares são a não adesão dos pacientes ao tratamento
prescrito, o tratamento inadequado, origem de regiões de alta incidência de
tuberculose, abuso de drogas, alcoolismo, pobreza, indivíduos sem abrigo e
doenças imunodepressoras tais como AIDS e diabetes mellitus.
A OMS refere que a resistência aos
antibacilares está intimamente associada aos tratamentos anteriores, pois em
pacientes previamente tratados, a probabilidade de ocorrência de qualquer
resistência é quatro vezes maior e a de multirresistência é de 10 vezes maior,
do que os pacientes não previamente tratados.
A melhor forma de prevenir a aquisição
de resistência passa por um tratamento com fármacos considerados de 1ª linha
(rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) bem administrado a casos
susceptíveis. Por isso a multirresistência é considerada um fenômeno biológico
iatrogênico, decorrente da aplicação inadequada dos regimes de tratamento de
curta duração. A identificação de tuberculose resistente a fármacos e a
administração precoce de tratamentos adequado são essenciais para parar a
transmissão primária.
A estratégia DOTS, lançada pela OMS na
década de 1990 comtempla as seguintes medidas: a) compromisso político e
suporte financeiro por parte dos países e regiões; b) provimento adequado e
regular de medicamentos, com controle de qualidade dos fármacos; c) detecção
precoce de casos com bacteriologia de boa qualidade; d) esquemas de tratamento
padronizados e aplicados sob observação direta aos pacientes, com objetivo de
assegurar a regularidade no ingestão dos medicamentos; e) monitoramento e
avaliação do sistema de informação e impacto das medidas adotadas.
O tratamento da TBMR é complexo, mais
caros e frequentemente com uma taxa de sucesso menor que o tratamentos das
estirpes sensíveis. Deve ser realizado em centro especializado, onde será
instituído um regime terapêutico “agressivo” e bem estruturado, lançando mão de
antibacilares de 2ª linha. O tratamento desses casos sempre iniciam em regime
de internamento, de modo a permitir a aferição da terapêutica e a detecção
precoce dos efeitos secundários da mesma.
Nos casos com doença localizada,
cavitações persistentes, destruição lobar ou pulmonar, falência de conversão e
recaídas anteriores, sempre deve ser considerado a hipótese cirúrgica, que deve
ser realizada preferencialmente após ter decorrido algum tempo de medicação
antibacilar e broncoscopia prévia.
É importante o entendimento da
necessidade de encarar a TBMR como um importante problema de saúde pública,
atentando-se especialmente em suas medidas de controle, buscando diminuir a
incidência desta doença que frequentemente implica no sofrimento humano
resultante da gravidade de suas sequelas.
O vídeo abaixo mostra a história de Happiness, paciente de Médicos sem Fronteiras, e as dificuldades que a tuberculose resistente e o tratamento trazem para a vida das pessoas.
Texto retirado e
adaptado de:
GOMES, Rita
Daniela Matos. Tuberculose
Multirresistente. 121f. (Dissertação para obtenção do grau de mestre em
Medicina). Universidade da Beira Interior/ Faculdade de Ciências da Saúde,
2008.
DALCOMO,
Margareth Pretti, et al. Tuberculose
multirresistente no Brasil: histórico e medidas de controle. Revista de Saúde Pública. v. 41 (Supl.
1), p. 34-42. 2007
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