segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Tuberculose Multirresistente

A tuberculose é uma doença que apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos continua a constituir um grave e importante problema de saúde pública.

A forma clínica de Tuberculose com bacilos resistentes à rifampicina e à isoniazida foi conceitualmente denominada tuberculose multirresistente (TBMR), reconhecida nos EUA no final da década de 1980. Como característica a tuberculose multirresistente apresenta diagnóstico tardio, taxa de cura mais baixa, taxa de transmissão elevada, alta mortalidade, além de íntima relação com a população hospitalizada e imunodeficiente por AIDS. A terapêutica da TBMR requer tratamento complexo, individualizado, com recursos à múltiplos fármacos de 2ª linha, com alta toxicidade e elevados custos.

         A OMS estima que em 2006, a incidência da multirresistência era de 489.139 casos, o que corresponde a 4,8% de todos os casos novos e previamente tratados. A China e a Índia são responsáveis por 50% da incidência e a Federação Russa por 7%.

      A emergência da resistência aos fármacos usados para o tratamento da tuberculose, e particularmente a TBMR, tornou-se um obstáculo ao controle global efetivo da tuberculose.

         Os principais fatores de risco de resistência aos antibacilares são a não adesão dos pacientes ao tratamento prescrito, o tratamento inadequado, origem de regiões de alta incidência de tuberculose, abuso de drogas, alcoolismo, pobreza, indivíduos sem abrigo e doenças imunodepressoras tais como AIDS e diabetes mellitus.

         A OMS refere que a resistência aos antibacilares está intimamente associada aos tratamentos anteriores, pois em pacientes previamente tratados, a probabilidade de ocorrência de qualquer resistência é quatro vezes maior e a de multirresistência é de 10 vezes maior, do que os pacientes não previamente tratados.

         A melhor forma de prevenir a aquisição de resistência passa por um tratamento com fármacos considerados de 1ª linha (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) bem administrado a casos susceptíveis. Por isso a multirresistência é considerada um fenômeno biológico iatrogênico, decorrente da aplicação inadequada dos regimes de tratamento de curta duração. A identificação de tuberculose resistente a fármacos e a administração precoce de tratamentos adequado são essenciais para parar a transmissão primária.

         A estratégia DOTS, lançada pela OMS na década de 1990 comtempla as seguintes medidas: a) compromisso político e suporte financeiro por parte dos países e regiões; b) provimento adequado e regular de medicamentos, com controle de qualidade dos fármacos; c) detecção precoce de casos com bacteriologia de boa qualidade; d) esquemas de tratamento padronizados e aplicados sob observação direta aos pacientes, com objetivo de assegurar a regularidade no ingestão dos medicamentos; e) monitoramento e avaliação do sistema de informação e impacto das medidas adotadas.

         O tratamento da TBMR é complexo, mais caros e frequentemente com uma taxa de sucesso menor que o tratamentos das estirpes sensíveis. Deve ser realizado em centro especializado, onde será instituído um regime terapêutico “agressivo” e bem estruturado, lançando mão de antibacilares de 2ª linha. O tratamento desses casos sempre iniciam em regime de internamento, de modo a permitir a aferição da terapêutica e a detecção precoce dos efeitos secundários da mesma.

         Nos casos com doença localizada, cavitações persistentes, destruição lobar ou pulmonar, falência de conversão e recaídas anteriores, sempre deve ser considerado a hipótese cirúrgica, que deve ser realizada preferencialmente após ter decorrido algum tempo de medicação antibacilar e broncoscopia prévia.

         É importante o entendimento da necessidade de encarar a TBMR como um importante problema de saúde pública, atentando-se especialmente em suas medidas de controle, buscando diminuir a incidência desta doença que frequentemente implica no sofrimento humano resultante da gravidade de suas sequelas.


O vídeo abaixo mostra a história de  Happiness, paciente de Médicos sem Fronteiras, e  as dificuldades que a tuberculose resistente e o tratamento trazem para a vida das pessoas.








Texto retirado e adaptado de:

GOMES, Rita Daniela Matos. Tuberculose Multirresistente. 121f. (Dissertação para obtenção do grau de mestre em Medicina). Universidade da Beira Interior/ Faculdade de Ciências da Saúde, 2008.

DALCOMO, Margareth Pretti, et al. Tuberculose multirresistente no Brasil: histórico e medidas de controle. Revista de Saúde Pública. v. 41 (Supl. 1), p. 34-42. 2007        






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